Ulysses – James Joyce
Ler Ulysses é uma aula de literatura. Não uma aula didática,
parada ou chata, mas uma aula completa, inquieta, rica, interminável e daquelas
que você pede para não terminar mesmo, porque ali está tudo: tudo o que poderia
já ter sido escrito, tudo o que se escreveu e tudo o que possivelmente se
escreverá nas próximas décadas e talvez séculos. Joyce é um rio, riverun, mas
esta é outra história...
Reler Ulysses é redescobrir narrativas. Se a odisséia é o
segundo livro dos gregos, é nele que Ulisses mostra seu valor para voltar a
casa. Se Joyce retoma esse nome, é porque deseja fazer disso um mote e, por 18
capítulos, cada um estruturado com um tipo diferente de narrativa, centrado em
um personagem, com um órgão do corpo humano como eixo , cores e características
distintas, ele nos inserirá não numa versão modernizada da Odisséia, mas num
romance atual sobre nosso “ulissismo”.
E uma simples ida ao açougue ganha a dimensão de uma viagem
sensorial. Um café da manhã uma sequencia de descobertas, e uma das múltiplas
beleza do livro é esta: cada ato, cada momento, cada situação é banal somente
se a vivemos na banalidade, desenraizamento e perda da perspectiva maior que
pode ter, quando inserida no conjunto da vida social que temos.
Joyce escreveu depois, muito depois, o Finnegans Wake. Livro muito difícil que tem uma linguagem onírica
construindo uma narrativa na que entram historias, História, mitos, relatos,
filosofia etc etc etc e muitos etecéteras. Desta vez que releio o Ulisses
começo a perceber que o fluxo de consciência que atravessa a ação, o pensamento
dos personagens que intercala os diálogos e situações é um “degrau” para o que
viria depois, no Finnegans. Aqui ainda conseguimos seguir o pensamento, a
lógica do que está passando na cabeça de quem pensa. No FW a coisa vai ficar
mais difícil de acompanhar pela lógica desperta, porque é um sonho ou pelo
menos um estado onírico.
Então é este um dos grandes livros do século XX. Um dos que
define o que pode ser um romance a partir de então, o que pode ser um “herói” a
partir disso. Não por acaso o livro de Antony Burguess sobre Joyce é Homem
Comum Enfim, pois é na abertura para que cada um de nós seja na sua própria vida
o Ulisses que faz do viver a aventura que o livro se funda e incita a leitura!!
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